Imagem 1: NOSSO PERCURSO
Dia 14/08/2009 fizemos nosso percurso dentro do quadrilátero proposto, no hipercentro de Belo Horizonte. Partimos da Rodoviária, chegamos à Praça Rio Branco, seguimos pela Av. Afonso Pena até a Praça Sete, em seguida descemos a Av. Amazonas até a Praça Rui Barbosa; depois, pela Praça da Estação, Av. do Contorno, subimos a Rua Espírito Santo, Rua Caetés, Rua Rio de Janeiro, Rua São Paulo, e finalizamos nosso percurso na Rua Curitiba, próximo ao nosso ponto de partida.
Encontramos vários imóveis vazios, fotografamos e escolhemos o imóvel localizado na Av. Amazonas, 77 (Imagem 2)

Em 19/08/09 criamos nossa personagem, que irá habitar este espaço. Desenho de Bianca Ribeiro.

Mesmo sendo rica, meus pais me criaram livre, para que eu não me tornasse uma pessoa alienada, vivendo apenas num mundo de glamour. Tanto que vim morar em Belo Horizonte aos 15 anos, andava (e ainda ando) de ônibus, metrô, ando a pé quando posso e de táxi quando preciso. Para mim isso não é tortura, adoro andar por aí, ver a cara das pessoas, o comércio, o movimento; enfim,observo tudo. Nunca gostei de dirigir carro, pois gosto de olhar tudo com atenção. Por incrível que pareça, não tenho medo de andar nas ruas. Dizem que peguei algumas "maldades", mas nunca ostentei nada e sou naturalmente atenta, mas sem ser neurótica. Alguns me até me acham louca, por seu "do contra".
Quando vim morar na capital, o centro da cidade sempre me chamou a atenção. Percebi que a população local tem total aversão por ele, evitando-o sempre que possível. Quando realmente precisam ir ao centro, essas pessoas passam muito rápido para terminar logo o que vieram cumprir e retornar rápido para suas casas; o que faz com que o centro da cidade fique deserto à noite e nos finais de semana.
Na minha cidade é totalmente diferente. Todos querem morar no centro, pois lá estão próximos de todo o comércio, há constante circulação de pessoas e possui maior número de locais de lazer, como barzinhos, restaurantes, praças, igrejas, parques...
Para tentar entender essa questão, decidi me mudar pro centro. Após o percurso descrito acima, escolhi uma edificação de aproximadamente 80 anos, localizada na av. Amazonas, 77. Parada em frente a ela, olhando a rua por alguns minutos, me vem à cabeça outra questão: com a aversão da população, o centro se tornou local de passagem. Não há um espaço para uma pausa no atribulado dia daqueles que precisam passar ou trabalhar naquele local. Aí pensei num espaço de pausa, onde tivessem livros, revistas e jornais, sofás e pufes confortáveis, um local aconchegante no tumultuado centro de Belo Horizonte. Um pedaço de hospitalidade no meio de um local inóspito.
Assim, ao mesmo tempo, eu entenderia como é viver num lugar tão desprezado pelos moradores e o porquê desta aversão, e também como os transeuntes receberiam este novo espaço criado para eles: um espaço de leitura.
No pavimento térreo, o espaço de leitura teria várias estantes de livros dos mais diversos assuntos, revistas e jornais, sofás, pufes e tapetes, um cantinho para café e água, banheiros feminino e masculino e um pequeno elevador para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção. Minha ideia é que os livros sejam usados ali; assim, a pessoa voltaria para continuar a leitura. No segundo pavimento, minha casa seria sem paredes, apenas móveis dividiriam os pequenos ambientes. Decidi deixar a parte da frente como um anexo ao espaço de leitura, mais reservado. Quando eu estivesse presente, conversaria com estas pessoas, ouviria suas histórias e contaria as minhas caso quisessem ouvir, receberia doações de livros bem como sugestões para o espaço, etc.
Mais um motivo pra me acharem louca, mas acredito que quando um espaço público é sentido por uma pessoa como sendo dela, o zelo com aquele local brota naturalmente. Eu me lembrei do caso das pequenas bibliotecas montadas em paradas de ônibus da Asa Norte(Brasília -DF).
A ideia foi de Luiz Amorim, dono de açougue, que inicialmente implantou a biblioteca em seu próprio estabelecimento em 1994, com doações. E em 21 de junho de 2007, as bibliotecas populares começaram a funcionar e, em 1 ano, contabilizaram cerca de 100 mil doações. O que mais me impressionou foi o fato de não ocorrer furto dos livros, cujo empréstimo é gratuito: as pessoas pegavam, liam e devolviam. O sentimento de local "público" deixa de ter o sentido de "de ninguém" e passa a ser "de cada um de nós".
Faço parte da ong "Leia Brasil", localizada no Rio de Janeiro, cujo objetivo é combater o analfabetismo funcional, democratizando a leitura e incentivando a produção de textos. Participei de uma oficina para bibliotecários e agentes de leitura, com o abjetivo de aprender um pouco mais sobre o trabalho deles e sentir como fazer da arquitetura um mecanismo de incentivo à leitura. Como construir um lugar convidativo, que atraia as pessoas para este mundo tão fascinante?

São várias questões, uma atrelada à outra, que me permearão enquanto eu habitar este local.
Este espaço funcionaria diariamente, de 7:00h às 22:00h, dois funcionários revezariam na limpeza e conservação do local, bem como na recepção e informação aos usuários. Pensei em algumas atividades para manter o local, talvez um serviço de xerox e papelaria, aluguel de minutos de uso de internet, taxa para uso do banheiro, venda de café e água, mas tudo com preços simbólicos. O espaço poderia abrigar até mesmo pequenas exposições de arte. Mas meu objetivo mesmo é fazer com que este espaço não necessite de vigilância, nem de cobrança, uma vez que a pretensão é de ser um Espaço PÚBLICO de Leitura.
Mas...
Imagem 3: Desenho de Aline Martins
Estou amadurecendo a ideia, usando como investimento recursos próprios, mas futuramente pretendo apresentar meu projeto à ong para, quem sabe, ser aprovado e divulgado para outras cidades.
Conto com a ajuda de meus amigos Marlon Teixeira, Aline Martins, Nancy Cordeiro, Verônica Gama e Bianca Andrade para me ajudar.
Até mais!
Maryeva dos Santos
Até mais!
Maryeva dos Santos
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