Segue abaixo um texto de Ranier Bragon, jornalista da Folha de São Paulo, sobre a Rua Guaicurus:
“Assim como um bairro, uma cidade, um país qualquer, o mundo da Guaicurus possui camadas sociais bem definidas. A informação de que as mulheres que se prostituem nos 16 "hotéis" daquele pequeno pedaço urbano cobram no máximo R$ 20 por programa pode levar à falsa impressão de que são 600 mulheres mais ou menos similares, no físico, na idade, na fortuna e na desgraça. Mas as castas da Guaicurus são facilmente identificáveis. Em 3 dos 16 "hotéis", cujas mulheres cobram R$ 20 dos clientes, praticamente todas são jovens aparentemente na casa dos 20 anos. O discurso de alguns donos desses estabelecimentos, até para escaparem da acusação de rufianismo, é o de que qualquer um pode, se quiser e se pagar, se hospedar nos quartos _inclusive você_, mas é difícil não imaginar uma espécie de seleção com base em estereótipos já que o preço da diária nos 16 estabelecimentos não varia de forma significativa, cerca de R$ 60.Os "hotéis de elite" da Guaicurus possuem um aparato mais visível, com sistema de câmeras pelos corredores, seguranças identificáveis, placas informativas, faxineiras, além de seus quartos e suas instalações serem relativamente novos. Nos outros 13 hotéis a diversidade, humana e material, é bem maior, e o preço médio, menor _R$ 10. Desses 13, dois ou três estão no mais baixo degrau do "sistema". São identificados pelas próprias prostitutas como destinados àquelas em "fim de carreira", o que não significa que o entra-e-sai de homens seja menor.Nesses prédios, todos muito antigos, não há sinal de reforma ao longo dos anos, todos estão em acelerado processo de decomposição e seus escuros cubículos lembram mais celas de presídio do que quartos de hotel. há mulheres que aparentam ter 40, 50, 60 anos ou mais. Na verdade, lá elas constituem a maioria. A raia miúda da Guaicurus, no dizer delas mesmas, atende clientes por R$ 7, R$ 5. Esse é o baixo meretrício de Belo Horizonte, na rua Guaicurus, centro da cidade. Mais que cinquentenário, tolerado pela polícia e pela lendária sociedade conservadora mineira sem nenhum sobressalto relevante; e dela "escondido" sob a fachada de prédios antigos e opacos, salvo quando surge no noticiário um ou outro episódio de violência. O que, de resto, é hoje comum a qualquer centro urbano.”
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